AÇÃO DA LUZ ULTRAVIOLETA E DA RIBOFLAVINA NA INATIVAÇÃO DE LEISHMANIA EM SANGUE CANINO CONSERVADO EM BOLSAS PARA TRANSFUSÃO

Autores

  • Soraya Regina Sacco
  • Cesar Rodrigo de Souza Surian
  • Rodrigo Costa da Silva
  • Helio Langoni
  • Mary Marcondes
  • Raimundo Souza Lopes

Palavras-chave:

Leishmania infantum chagasi, leishmaniose, luz UV, vitamina B2, sangue

Resumo

É de extrema importância para a medicina transfusional que haja segurança no procedimento
de transferência de hemocomponentes, minimizando a ocorrência da transmissão de
patógenos. O presente trabalho investigou a eficiência da luz ultravioleta e riboflavina na
inativação de Leishmania infantum chagasi em amostras de sangue canino, colhidas em
bolsas plásticas para transfusão. Para detectar as bolsas de sangue positivas a serem utilizadas
no experimento, foi realizada PCR convencional de sangue de bolsas colhidas de animais
sintomáticos, positivos na punção aspirativa de linfonodo e na RIFI (título 1:640),
procedentes do CCZ de região epidêmica para a enfermidade. Após 21 dias de
armazenamento em temperatura de 4ºC, o sangue canino parasitado foi adicionado de
riboflavina na concentração final de 50µM. Posteriormente, a bolsa foi colocada no
iluminador a um comprimento de onda de 365 nm de luz UV por 30 e 45 minutos, sendo
mantida sobre um homogeinizador de bolsa de sangue. Para comprovar a inativação, foram
utilizados 28 hamsters (Mesocricetus auratus), machos e adultos. Sete animais foram
inoculados com o sangue sem tratamento (grupo leishmaniose: GL); sete, com sangue após a
adição de riboflavina (grupo riboflavina: GRB); sete, com sangue após tratamento com
riboflavina associado à luz ultravioleta por 30 minutos (grupo tratado 1: GT30) e sete, com
sangue após tratamento com riboflavina associado à luz ultravioleta por 45 minutos (grupo
tratado 2: GT45). Os animais foram mantidos durante 120 dias em caixas para hamsters no
Infectório da área de Zoonoses e Saúde Pública da FMVZ, Unesp, Botucatu-SP, e
acompanhados clinicamente. O sangue dos hamsters foi colhido por punção intracardíaca para
realização dos exames sorológicos e moleculares. Baço, fígado e medula óssea foram
extraídos após a necropsia, foram macerados, sendo a medula óssea obtida após a maceração
do osso esterno, e foi realizada extração do DNA para realização da PCR convencional e
qPCR. O sangue parasitado não perdeu a capacidade de produzir a infecção após o período de
armazenamento (21 dias). Os hamsters inoculados com sangue tratado com riboflavina e luz
UV por 30 e 45 minutos apresentaram PCR positiva, apesar dos animais não apresentarem
sinais clínicos da enfermidade. Na qPCR, pode-se identificar que a associação da riboflavina
com a luz UV reduziu a carga parasitária, porém, não eliminou completamente os parasitas,
demonstrando a importância de testes laboratoriais para diagnóstico da leishmaniose na
seleção de doadores de sangue.

Referências

Owens SD, Oakley DA, Marryott K, Hatchett W, Walton R, Nolan TJ et al. Transmission of visceral leishmaniasis through blood transfusions from infected English foxhounds to anemic dogs. J Am Vet Med Assoc. 2001;219:1076-1083.

Freitas E, Melo MN, Costa-Val AP, Michalick MSM. Transmisión of Leishmania infantum via blood transfusión in dogs: potencial for infection and importante of clinical factors, Vet. Parasitol. 2005;137:159–167.

Bryant BJ, Klein HG. Pathogen inactivation: the definitive safeguard for the blood supply. Arch. Pathol. Lab. Med. 2007;131(5):719-733.

Wendel S. A quimioprofilaxia de doenças transmissíveis por transfusão em componentes lábeis hemoterápicos. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 2002;35(4):275-281.

Goodrich RP, Hansen E, Gilmour D, Jesser R, Keil S, Goodrich T. Inactivation of Pathogens in Blood Products with Riboflavin and Light. Lakewood, CO, USA: Gambro BCT, Inc.; 2000.

Reddy HL, Dayan AD, Cavagnaro J, Gad S, Li J, Goodrich RP. Toxicity Testing of a Novel Riboflavin-Based Technology for Pathogen Reduction and White Blood Cell Inactivation. Transfus. Med. Rev. 2008;22(2):133-153.

Reikvam H, Marschner S, Apelseth TO, Goodrich R, Hervig T. The Mirasol® Pathogen Reduction Technology system and quality of platelets stored in platelet additive solution. Blood Transfus. 2010; 8:186-192.

Cardo LJ, Rentas FJ, Ketchum L, Salata J, Harman R, Melvin W et al. Pathogen inactivation of Leishmania donovani infantum in plasma and platelet concentrates using riboflavin and ultraviolet light. Vox Sang. 2006;90:85-91.

Marschner S, Goodrich R. Pathogen Reduction Technology Treatment of Platelets, Plasma and Whole Blood Using Riboflavin and UV Light. Transfus Med Hemother. 2011;38:8–18.

Speck WT, Rosenkranz HS. Phototherapy for neonatal hyperbilirubinemia a potential environmental health hazard to new-born infants: a review. Environ. mutagen. 1979;1:321-336.

Kumar V, Lockerbie O, Keil SD. Riboflavin and UV-light based pathogen reduction: extent and consequence of DNA damage at the molecular level. J. Photochem. Photobiol. 2004;80:15-21.

Goodrich RP, Edrich RA, Goodrich L, Scott C, Manica K, Hlavinka D et al. The antiviral and antibacterial properties of riboflavin and light: applications to blood safety and transfusion medicine. p. 83–113. In: Silva E, Edwards AM. (eds). Flavins: Photochemistry and Photobiology. Comprehensive Series in Photochemical and Photobiological Sciences. Cambridge: The Royal Society of Chemistry; 2006.

Janetzko K, Hinz K, Marschner S, Klüter H, Bugert P. Monitoring of the Mirasol Pathogen Reduction Procedure for Platelet Concentrates by PCR and bioanalyzer. Transfus Med Hemother. 2007;34(1):60-65.

Ruane PH, Edrich R, Gampp D, Keil SDK, Leonard RL, Goodrich RP. Photochemical inactivation of selected viruses and bacteria in plalelet concentrates using riboflavin and light. Blood Components. 2004;4:877-885.

Cardo LJ, Salata J, Mendez J, Reddy H, Goodrich R. Pathogen inactivation of Trypanosoma cruzi in plasma and platelet concentrates using riboflavin and ultraviolet light Transfusion and Apheresis Science. 2007;37:131–137.

Rentas F, Harman R, Gomez C, Salata J, Childs J, Silva T et al. Inactivation of Orientia tsutsugamushi in red blood cells, plasma, and platelets with riboflavin and light, as demonstrated in an animal model. Transfusion. 2007;47:240-247.

Goodrich RP, Doane S, Reddy HL. Design and development of a method for the reduction of infectious pathogen load and inactivation of white blood cells in whole blood products. Biologicals. 2010;38:20–30.

Seltsam A, Müller TH. UVC Irradiation for Pathogen Reduction of Platelet Concentrates and Plasma. Transfus Med Hemother. 2011;38:43–54.

Hochman B, Ferreira LM, Bôas FCV, Mariano M. Integração do enxerto heterólogo de pele humana no subepitélio da bolsa jugal do hamster (Mesocricetus auratus). Acta Cir. Bras. 2003;18(5): 415-430.

Sampaio IBM. Estatística Aplicada à Experimentação Animal. Belo Horizonte: Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e Zootecnia; 1998.

Lei SM, Ramer-Tait AE, Dahlin-Laborde RR, Mullin K, Beetham JK. Reduced hamster usage and stress in propagating Leishmania chagasi promastigotes using cryopreservation and saphenous vein inoculation. J. Parasitol. 2010;96(1):103–108.

Fast LD, Dileone G, Marschne S. Inactivation of human white blood cells in platelet products after pathogen reduction technology treatment in comparison to gamma irradiation. Transfusion. 2006;51:1397-1404.

Goto H, Lindoso JAL. Immunity and immunossupression in experimental visceral leishmaniasis. Braz. J. Med. Biol. Res. 2004;37:615-623.

Rosypal AC, Gogal RMJ, Zajac AM, Troy GC, Lindsay DS. Flow cytometric analyses of cellular responses in dogs experimentally infected with a North American isolate of Leishmania infantum. Vet. Parasitol. 2005;131:45-51.

Guarga JL, Moreno J, Lucientes J, Gracia MJ, Peribanez MA, Alvar, J et al. Canine leishmaniasis transmission, higher infectivity amongst naturally infected dogs to sand flies is associated with lower proportions of T-helper cells. Res. Vet. Sci., 2000;69:249-253.

Zijlstra EE, Nur Y, Desjeux P, Khalil EAG, El-Hassan AM, Groen J. Diagnosing visceral leishmaniasis with the recombinant K39 strip test: experience from Sudan. Trop. Med. Int. Health. 2001;6:108-113.

Singh S, Sivakumar R. Recent Advances in the Diagnosis of Leishmaniasis. J. Postgrad. Med. 2003;49:55-60.

Wyllie S, Fairlamb AH. Refinement of techniques for the propagation of Leishmania donovani in hamsters. Acta Tropica. 2006;97(3):364–369.

Ferrer LM. Clinical aspects of canine leishmaniasis. In: Proceedings of the International Canine Leishmaniasis Forum. Barcelona, Spain. Canine Leishmaniasis: an update. Wiesbaden: Hoeschst Roussel Vet;1999. p.6-10.

Slappendel RJ, Ferrer L. Leishmaniasis. In: Greene CE. Clinical Microbiology and Infectious Diseases of the Dog and Cat. Philadelphia: W.B.Saunders Co.;1990, p.450-458.

Nunes CM, Dias AKK, Gottardi FP, Paula HB, Azevedo MAA, Lima VMF et al. Avaliação da reação em cadeia pela polimerase para diagnóstico da leishmaniose visceral em sangue de cães. Rev. Bras. Parasitol. Vet. 2007;16(1):5-9.

Miró G, Cardoso L, Pennisi MG, Oliva G, Baneth G. Canine leishmaniosis - new concepts and insights on an expanding zoonosis: part two, Trends Parasitol. 2008;24:371-377.

Paltrinieri S, Solano-Gallego L, Fondati A, Lubas G, Gradoni L, Castagnaro M et al. Guidelines for diagnosis and clinical classification of leishmaniasis in dogs. J. Amer. Vet. Med. Ass. 2010;236:1184–1191.

Mortarino M, Franceschi A, Mancianti F, Bazzocchi C, Genchi C, Bandi, C. Quantitative PCR in the Diagnosis of Leishmania. Parasitol. 2004;46:163-167.

Wilson ME, Sandor M, Blum AM, Young BM, Metwali A, Elliott D et al. Local suppression of IFN-gamma in hepatic granulomas correlates with tissue specific replication of Leishmania chagasi. J Immunol. 1996;156(6):2231–22.

Solcà MS, Guedes CE, Nascimento EG, Oliveira GG, Santos WL, Fraga DH et al. Qualitative and quantitative polymerase chain reaction (PCR) for detection of Leishmania in spleen samples from naturally infected dogs. Vet. Parasitol. 2012;184:133– 140.

Maia C, Ramada J, Cristóvão JM, Gonçalves L, Campino L. Diagnosis of canine leishmaniasis: conventional and molecular techniques using different tissues. Vet J. 2009;179(1):142-144.

Downloads

Publicado

2022-02-23

Como Citar

1.
Sacco SR, Surian CR de S, Silva RC da, Langoni H, Marcondes M, Lopes RS. AÇÃO DA LUZ ULTRAVIOLETA E DA RIBOFLAVINA NA INATIVAÇÃO DE LEISHMANIA EM SANGUE CANINO CONSERVADO EM BOLSAS PARA TRANSFUSÃO. RVZ [Internet]. 23º de fevereiro de 2022 [citado 9º de novembro de 2024];23(3):439-52. Disponível em: https://rvz.emnuvens.com.br/rvz/article/view/797

Edição

Seção

Artigos Originais

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 > >>