Neuropatologia da cinomose
DOI:
https://doi.org/10.35172/rvz.2008.v15.392Palavras-chave:
cinomose, Morbilivirus, neuropatologia, encefalite, desmielinizaçãoResumo
A cinomose é uma enfermidade infecto-contagiosa, que afeta naturalmente os cães, causada por um Paramyxovirus, do gênero Morbilivirus, de apresentação clínica aguda, subaguda e crônica. De ocorrência mundial, sem sazonalidade, sem predileção de sexo ou raça, apresenta maior incidência em animais jovens, podendo acometer todas as idades. A transmissão ocorre principalmente por aerossóis e gotículas contaminadas. Após o contato do vírus com o epitélio ocorre replicação viral nos macrófagos e disseminação. Entre quatro e seis dias ocorre nova replicação causando aumento inicial na temperatura corporal e leucopenia. No período de 8 a 10 dias, ocorre disseminação viral nos epitélios e no sistema nervoso central. A encefalite aguda acomete animais jovens ou imunossuprimidos e é caracterizada por lesão viral direta. A encefalite multifocal em adultos acomete freqüentemente animais entre quatro a seis anos, apresentando curso crônico. A encefalite do cão velho, comum em cães com mais de seis anos, caracteriza-se por panencefalite e é uma forma rara, resultante da persistência viral nos neurônios. As lesões desmielinizantes clássicas iniciam três semanas pós-infecção e durante período de intensa imunossupressão, sendo conseqüência da replicação viral no interior de oligodentrócitos. A desmielinização na fase crônica coincide com a recuperação do sistema imune, caracterizada pela redução ou perda das proteínas virais, com aumento da regulação do complexo principal de histocompatibilidade e infiltração de células inflamatórias. O curso clínico e o padrão neurológico da encefalomielite variam de acordo com a cepa viral e a idade que o animal foi infectado. O líquor pode indicar anormalidades na fase crônica com aumento de proteínas, principalmente por IgG antivírus e aumento do número de células, com predomínio de linfócitos. Em cortes histológicos é possível confirmar a infecção com a observação de lesões caracterizadas por áreas de necrose bem delimitadas, desmielinização e corpúsculos de inclusão. O isolamento viral em cultivo celular é específico, demorado e pode resultar em falso-negativo, exceto na fase aguda. A técnica da reação em cadeia pela polimerase, precedida de transcrição reversa vem sendo empregada com sucesso na detecção viral. O diagnóstico pode ser confirmado pela técnica de imunofluorescência direta em fluídos corporais, porém o aumento dos títulos de IgM e IgG no soro é ambíguo e pode indicar infecções passadas e presentes com ou sem vacinação. Cães infectados podem apresentar imunossupressão, permitindo a infecção por agentes oportunistas, como o Toxoplasma gondii. Vacinas produzidas com as amostras virais adequadamente atenuadas são eficientes em proteger os animais contra a infecção natural.
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