Neuropatologia da cinomose

Autores

  • Simone Henriques Mangia
  • Antônio Carlos Paes

DOI:

https://doi.org/10.35172/rvz.2008.v15.392

Palavras-chave:

cinomose, Morbilivirus, neuropatologia, encefalite, desmielinização

Resumo

A cinomose é uma enfermidade infecto-contagiosa, que afeta naturalmente os cães, causada por um Paramyxovirus, do gênero Morbilivirus, de apresentação clínica aguda, subaguda e crônica. De ocorrência mundial, sem sazonalidade, sem predileção de sexo ou raça, apresenta maior incidência em animais jovens, podendo acometer todas as idades. A transmissão ocorre principalmente por aerossóis e gotículas contaminadas. Após o contato do vírus com o epitélio ocorre replicação viral nos macrófagos e disseminação. Entre quatro e seis dias ocorre nova replicação causando aumento inicial na temperatura corporal e leucopenia. No período de 8 a 10 dias, ocorre disseminação viral nos epitélios e no sistema nervoso central. A encefalite aguda acomete animais jovens ou imunossuprimidos e é caracterizada por lesão viral direta. A encefalite multifocal em adultos acomete freqüentemente animais entre quatro a seis anos, apresentando curso crônico. A encefalite do cão velho, comum em cães com mais de seis anos, caracteriza-se por panencefalite e é uma forma rara, resultante da persistência viral nos neurônios. As lesões desmielinizantes clássicas iniciam três semanas pós-infecção e durante período de intensa imunossupressão, sendo conseqüência da replicação viral no interior de oligodentrócitos. A desmielinização na fase crônica coincide com a recuperação do sistema imune, caracterizada pela redução ou perda das proteínas virais, com aumento da regulação do complexo principal de histocompatibilidade e infiltração de células inflamatórias. O curso clínico e o padrão neurológico da encefalomielite variam de acordo com a cepa viral e a idade que o animal foi infectado. O líquor pode indicar anormalidades na fase crônica com aumento de proteínas, principalmente por IgG antivírus e aumento do número de células, com predomínio de linfócitos. Em cortes histológicos é possível confirmar a infecção com a observação de lesões caracterizadas por áreas de necrose bem delimitadas, desmielinização e corpúsculos de inclusão. O isolamento viral em cultivo celular é específico, demorado e pode resultar em falso-negativo, exceto na fase aguda. A técnica da reação em cadeia pela polimerase, precedida de transcrição reversa vem sendo empregada com sucesso na detecção viral. O diagnóstico pode ser confirmado pela técnica de imunofluorescência direta em fluídos corporais, porém o aumento dos títulos de IgM e IgG no soro é ambíguo e pode indicar infecções passadas e presentes com ou sem vacinação. Cães infectados podem apresentar imunossupressão, permitindo a infecção por agentes oportunistas, como o Toxoplasma gondii. Vacinas produzidas com as amostras virais adequadamente atenuadas são eficientes em proteger os animais contra a infecção natural.

Referências

BIAZZONO, L.; HAGIWARA, M. K.; CORRÊA, A. R. Avaliação da resposta imune humoral em cães jovens imunizados contra a cinomose com vacina de vírus atenuado. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v. 38, n. 5, p. 245-250, 2001.
BRITO, A. F. et al. Epidemiological and serological aspects in canine toxoplasmosis in animals with nervous symptoms. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 97, n. 1, p. 31-5, jan. 2002.
BÜRGE, T. et al. Antiviral Antibodies Stimulate Production of Reactive Oxygen Species in Cultured Canine Brain Cells Infected with Canine Distemper Virus. Journal of Virology, v. 63, n. 6, p 2790- 2797, jun. 1989.
CORRÊA, C. N. M. Cinomose. In: CORRÊA, W. M.; CORRÊA, C. N. M. (Eds). Enfermidades Infecciosas dos Mamíferos Domésticos. Rio de Janeiro: Medsi, 1992. p. 655-670.
GAMA, F. G. V. et al. Caracteres físico-químicos e citológicos do líquor de cães em diferentes fases da cinomose. Ciência Rural, v.35, n. 3, p. 596-601, mai./jun. 2005.
GEBARA, C. M. S., et al. Lesões histológicas no sistema nervoso central de cães com encefalite e diagnóstico molecular da infecção pelo vírus da cinomose canina. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 56, n. 2, p 168-174, abr. 2004.
GREENE, C. E.; APPEL, M. J. Canine Distemper In: GREENE, C. E. (Eds). Infectious Diseases of the Dog and Cat. Philadelphia: Elsevier, 2006. p 25-41.
GRÖNE, A.; ALLDINGER, S.; BAUMGÄRTNER, W. Interleukin-1β, -6, -12 and tumor necrosis factor-α expression in brains of dogs with canine distemper virus infection. Journal of Neuroimmunology, v. 110, p 20-30, 2000.
HEADLEY, S. A., GRAÇA, D. L. Canine distemper: epidemiological findings of 250 cases.
Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v. 37, p. 136-140, 2000.
JONES, T. C., HUNT, R. D., KING, N. W. Patologia Veterinária. São Paulo: Manole, 2000. p. 1415. KHUTH, S. T., et al. Morbilivirus Infection of the Mouse Central Nervous System Induces Region- Specific Upregulation of MMPs and TIMPs Correlated to Inflamatory Cytokine Expression. Journal of Virology, v. 75, n. 17, p. 8268-8282, set. 2001.
KRAKOWKA, S. et al. Myelin-Specific Autoantibodies Associated with Central Nervous System Demyelination in Canine Distemper Virus Infection. Infection and Immunity, v. 8, n. 5, p 819-827, nov. 1973.
MARKUS, S., FAILING, K., BAUMGÄRRTNER, W. Increased expression of pro-inflammatory cytokines and lack of up-regulation of anti-inflammatory cytokines in early distemper CNS lesions. Journal of Neuroimmunology, v. 125, p 30-41, 2002.
MIAO, Q. et al. Phase-dependent expression of matrix metalloproteinases and their inhibitors in demyelinating canine distemper encephalitis. Acta Neuropathologica, v. 106, p 486-494, ago. 2003.
MORETTI, L. D. et al. Toxomplasma gondii genotyping in a dog co-infected with distemper virus and ehrlichiosis Rickettsia. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, v. 48, n. 6, p. 359- 363, nov/dez. 2006.
MORO, L.; VASCONCELOS, A. C. Patogenia da imunossupressão na cinomose canina. A Hora Veterinária, v. 17, n. 102, p. 53-7, mar/abr. 1998.
SATIO, T. B. et al. Detection of canine distemper virus by reverse transcriptase-polymerase chain reaction in the urine of dogs with clinical signs of distemper encephalitis. Disponível em: www.sciencedirect.com – mar. 2005.
STEIN, V. M. et al. A. Microglial cell activation in demyelinating canine distemper lesions. Journal of Neuroimmunology, v. 153, p. 122-131, mai. 2004.
STERN, L. B. L. et al. The Hemagglutinin Envelope Protein of Canine Distemper Virus (CDV) Confers Cell Tropism as Illustrated by CDV and Measles Virus Complementation Analysis. Journal of Virology, v. 69, n. 3, p 1661-1668, mar. 1995.
SUMMERS, B. A., CUMMINGS, J. F., LAHUNTA, A. Veterinary Neuropathology. Mosby, 1995, p. 102-110.
TIPOLD, A., VANDEVELDE, M., JAGGY, A. Neurological manifestations of canine distemper virus infection. Journal of Small Animal Pratice, v. 33, n. 10, p. 466-470, 1992.
VANDEVELDE, M. The Pathogenesis of Nervous Distemper. Disponível em: www.vin.com/proceedeings/proceedings.plx?CID=WSAVA&PID out, 2004, acesso em 15/01/2007.
VANDEVELDE, M., ZURBRIGGEN, A. The neurobiology of canine distemper virus infection.
Veterinary Microbiology, v. 44, n. 2-4, p 271-280, jan. 1995.
VANDEVELDE, M.; ZURBRIGGEN, A. Demyelination in canine distemper virus infection: a review. Acta Neuropathologica, v. 109, p 56-68, jan. 2005.
VITE, C. H. Inflammatory Disease of the Central Nervous System. In: VITE, C. H. Braund´s Clinical Neurology in Small Animals: Localization, Diagnosis and Treatment (Eds.) New York: International Veterinary Information Service (www.ivis.org), fev. 2005.
Von MESSLING, V. et al. The hemagglutinin of Canine Distemper Virus Determines Tropism and Cytopathogenicity. Journal of Virology, v. 75, n. 14, p 6418-6427, jul. 2001.
Von MESSLING, V. et al. Canine Distemper Virus and Measles Virus Fusion Glycoprotein Trimers: Partial Membrane-Proximal Ectodomain Cleavage Enhances Function. Journal of Virology, v. 78, n. 15, ago. 2004.
WÜNSCHMANN, A. et al. Indentification of CD4+ and CD8+ T cell subsets and B cell in the brain of dogs with spontaneous acute, subacute-, and chronic-demyelinating distemper encephalitis. Veterinary Immunology and Immunopathology, v. 67, p 101-116, 1999.
ZURBRIGGEN, A. et al. Canine Distemper Virus Persistence in the Nervous System Is Associated with Noncytolytic Selective Virus Spread. Journal of Virology, v. 69, n. 3, p. 1678-1686, mar. 1995a.
ZURBRIGGEN, A. et al. Selective spread and reduced virus release leads to canine distemper virus persistence in the nervous system. Veterinary Microbiology, v. 44, p 281-288, 1995b.

Arquivos adicionais

Publicado

2008-09-30

Como Citar

1.
Henriques Mangia S, Paes AC. Neuropatologia da cinomose. RVZ [Internet]. 30º de setembro de 2008 [citado 29º de março de 2024];15(3):416-27. Disponível em: https://rvz.emnuvens.com.br/rvz/article/view/392

Edição

Seção

Artigos de Revisão

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)

1 2 > >>